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CRÔNICAS E OUTROS ENSAIOS



AS VERDADES QUE AS MULHERES CONTAM


Janete e Carlinhos conheceram-se no primeiro semestre da faculdade. A princípio eles só trocavam olhares, logo passaram a trocar também sorrisos. Carlinhos começou a chegar mais cedo só para sentar perto dela. Ficaram muito amigos. Começaram a ir juntos ao cinema, dividiam a pipoca e o refrigerante. Ele passou a frequentar a casa dela e ficavam a tarde inteira jogando The Sims.
— Deixa eu te explicar, Carlinhos. Primeiro você cria um Sim, ou seja, um personagem virtual. Este ícone aqui serve para você escolher o sexo do seu Sim. Neste outro, o cabelo. Depois você escolhe o formato do rosto e aqui vai deslizando esse botão para aumentar ou diminuir a silhueta. E o mais importante, claro, escolher a personalidade: bravo, extrovertido, amante de animais, etc.
— Hum, interessante. Que tal criarmos um Sim para você? Deixa eu ver... alta, com lindas sardas no rosto... Dá para colocar sardas nos Sims?
— Dá sim. Mas então vamos criar você também.
— E aí a gente casa, certo?
— Virtualmente?
— É... Por enquanto pode ser assim.
— Certo. Então vamos precisar de uma casa. Começamos o jogo com R$ 20.000,00. Isso só dá para começar, precisaremos fazer os acabamentos e comprar a mobília. Precisamos encontrar um emprego. No início, o salário é baixo, se nos empenharmos vamos ascendo na carreira e quem sabe conseguimos comprar um carro também.
Depois da formatura, Carlinhos começou a trabalhar no escritório do pai e Janete foi fazer uma especialização e conseguiu emprego em uma administradora de condomínios. Juntaram dinheiro, deram a entrada no apartamento e casaram-se do mesmo jeitinho que acontecera no The Sims.
No início, os vizinhos viviam reclamando do barulho do casal. Eles brincavam de pega-pega e esconde-esconde. Ele fazia cosquinhas e ela ria escandalosa. Mas, depois de algum tempo, as reclamações cessaram porque o apartamento foi ficando silencioso. Nos fins de semana, ele ia jogar futebol com os amigos. Desinteressou-se do The Sims. Ela ficava em casa, lendo Foucault.
Durante a semana, depois do trabalho, ao invés de ir ao supermercado e comprar alguma coisa diferente para o jantar, ela atravessava a rua e ia ao shopping em frente. Olhava as vitrines, sem pressa, porque sabia que ele ia jogar futebol. Agora era todos os dias. Ainda não haviam terminado a casa no The Sims e ele nem ligava. Tratou de chegar depois dele. Quem sabe assim a percebesse. Sempre saia com algumas sacolas na mão, chegava na garagem do condomínio, colocava-as no porta-malas e pegava o elevador.
Um dia, ao entrar em casa, foi interpelada pelo marido.
 — Onde você estava até agora?
— Olhando as vitrines do shopping.
— Mentira!
— É verdade, eu juro!
— E ontem? E anteontem? E semana passada? Onde você esteve?!
— No shopping, olhando as vitrines.
— Mentirosa! Vou sair para esfriar a cabeça, você não prepara mais o jantar mesmo, agora comemos qualquer coisa porque você chega tarde e cansada e depois fica lendo essas coisas estranhas. Você não se importa comigo!
Carlinhos passara semanas tentando demonstrar-se indiferente aos atrasos da esposa, mas agora fervera-lhe o sangue, não deu para segurar. Janete animou-se com a atitude do marido e, no dia seguinte, chegou depois dele novamente.
— Posso saber onde a madame estava hoje?! No shopping? Vendo as vitrines?!
— É.
— E onde estão as sacolas?! Ou vai me dizer que você não comprou nada, só olhou as vitrines.
— Comprei sim, está tudo no porta-malas.
— Você é muito cínica. Quem é seu amante?
— Vá olhar se as sacolas não estão no carro!
— Quer saber, eu vou deletar nossa casa no The Sims!
— Tudo bem, a gente já não joga há tanto tempo.
E ele deletou mesmo. Ela pensou que ele jamais fosse capaz e ele pensou que ela não se importava.
No dia seguinte, ele a recebeu com as mesmas perguntas, cada vez mais agressivo.
— Onde raios você se mete? Estava com seu amante, não é?
— De que adianta eu dizer que não? Você não acredita mesmo!
— Ah, eu acredito! Acredito, sim! Acredito, aliás, que você é uma louca!
— Como pode falar assim comigo? Você é muito estúpido!
— Estúpido, eu? Estúpido foi o que eu vi no extrato bancário.
— É, eu sei. Você certamente preferiria que eu tivesse um amante. Saquei isso quando deletou nossa casa, deletou tudo que levamos tanto tempo para construir juntos.
Janete começou a chorar e trancou-se no quarto.
— Ei, Janete, não é isso. Peraí... Abre a porta, vai!
— Não. Você deletou o nosso lar. Não há mais nada a dizer.
— Não, não é nada disso. Me desculpa, vai. Eu... eu estou ansioso para ver o que você comprou.
Então, ela abriu a porta e ambos desceram até a garagem, abriram o porta-malas e ele a ajudou a levar as compras para o apartamento. Ela provou os novos modelitos e perguntou o que ele achava. Ele pediu desculpas e disse que iria reconstruir a casa deles no The Sims. Ela disse que iria ajudar.
Eles voltaram a jogar, levantaram cada parede novamente. Conseguiram montar outra casa, igualzinha a de antes, mas agora acrescentaram um quarto para as crianças. Sim, a família iria aumentar.


Elaine Hoffmann
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