quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O movimento dos professores/as do Rio de Janeiro: impasses e desafios por Profa. Vera Candau

Caros colegas
Peço licença para levar ao conhecimento de vocês a carta escrita pela colega professora da PUC-Rio, Vera Candau  e reproduzida abaixo, a propósito do movimento, sem precedentes pela extensão e mobilização, de professores no Estado e no Município do Rio de Janeiro. A luta tem reunido um número enorme de professores de todos os segmentos de ensino, não só os ligados às secretarias de Estado e do Município, além de parte relevante da sociedade e inúmeras entidades representativas da sociedade civil, com documentos e ações de vários tipos na direção do governo estadual e municipal.
Ainda na semana do nosso dia, o Dia do Professor, a carta de Vera, além de apresentar de maneira sintética a luta em curso no Rio, nos incita a continuar refletindo e agindo para que a educação íntegra e politicamente significativa seja um direito de todos no país.
Que possamos continuar vivendo o nosso dia com a esperança ativa da progressiva mudança na realidade educacional do Brasil.
Com um abraço,
Cecilia Goulart

Universidade Federal Fluminense
Faculdade de Educação 
Programa de Pós-Graduação em Educação
PROALE - Programa de Alfabetização e Leitura
 
O movimento dos professores/as do Rio de Janeiro: impasses e desafios

Os governos do estado e do município do Rio de Janeiro tem assumido em relação ao movimento dos profissionais de educação uma posição violenta, desrespeitosa e autoritária. Violenta por permitir o uso da força física por parte da polícia, de modo claramente ofensivo e de repressão absurda e anti-democrática. Desrespeitosa por não reconhecer os profissionais de educação, devidamente representados pelo SEPE, como legítimos interlocutores. Autoritária por não mobilizar com determinação o diálogo e a negociação com os educadores /as.
As reivindicações dos profissionais de educação são justas e pertinentes. Não existe qualidade de educação se os educadores não têm condições adequadas de trabalho: salário justo, escolas bem equipadas, horário de trabalho concentrado numa escola, tempo para planejamento pedagógico e para construir projetos coletivos, formação continuada, número adequado de alunos/as em cada sala de aula, carreira docente estimulante e autonomia profissional. De fato, as políticas educacionais do estado e do município, na atual gestão, têm se paut ado por uma concepção tecnocrática, instrumental e performática da educação. Controle, monitoramento e desempenho medido por provas padronizadas são seus eixos fundamentais. Nesta lógica os profissionais da educação são reduzidos a meros executores de determinações políticas elaboradas sem a sua participação, agentes passivos de orientações curriculares e pedagógicas com as quais não se identificam.
Os profissionais de educação do nosso estado têm uma história de luta e compromisso com a educação. Investem em sua formação continuada. São conscientes do papel da educação para a formação da cidadania. Não permitem que o processo educacional se conceba basicamente como ensino de alguns conhecimentos específicos. Educar não pode se reduzir a ensinar. Nem ensinar a instruir. Nem instruir a preparar para ter êxito em testes padronizados.
Os profissionais da educação acreditam/acreditamos que educar nos remete a favorecer o desenvolvimento dos alunos/as em diferentes dimensões. Reconhecer e valorizar cada aluno, cada aluna, tendo presente suas características sociocu lturais. Apostar no potencial de crescimento pessoal e coletivo dos diversos sujeitos dos processos educativos. Estabelecer relações de cooperação e trabalho conjunto com as famílias e as comunidades. Comprometer-se com uma qualidade social da educação, orientada à transformação da nossa sociedade, à formação para uma presença competente e comprometida na construção de uma verdadeira democracia.
Os profissionais de educação exigem/exigimos autonomia pedagógica. Possuem/possuímos um saber construído ao longo de muitos anos de formação e prática pedagógica cotidiana. Querem/queremos participar ativamente da construção das políticas educativas.
Vivenciam/vivenciamos diariamente os desafios da educação.
São/somos os principais responsáveis dos processos educacionais. Exigem/exigimos respeito e reconhecimento. Repudiam/repudiamos o autoritarismo. Estão/estamos abertos ao diálogo e querem/queremos ser considerados protagonistas das políticas educativas.
É tempo de renovarmos nosso compromisso com a escola pública.
Neste momento crítico, é necessário que toda a sociedade participe de um amplo debate sobre os rumos da educação no nosso estado e no país. Consideramos fundamental reinventar a escola para que possa dar resposta aos desafios da sociedade em que vivemos. Não acreditamos na padronização, em currículos engessados e perspectivas que reduzem o direito à educação a resultados uniformes. Acreditamos no potencial dos educadores para construir propostas educativas coletivas e plurais. É tempo de inovar, atrever-se a realizar experiências pedagógicas, promover intercâmbio entre professores/as e escolas, mobilizar as comunidades educativas na construção de projetos políticopedagógicos relevantes para cada contexto.
Hoje, 15 de outubro, Dia do Professor/a, queremos renovar nossa crença no compromisso de cada educador, de cada educadora, na sua capacidade de luta e de construção coletiva de caminhos de renovação e reinvenção das nossas escolas, dos sistemas de ensino, das políticas públicas de educação.

Vera Maria Candau
Professora titular
Departamento de Educação – PUC-Rio
Assessora da ONG Novamerica