Após permanecer inédita por cerca de 120 anos, a obra “Versos para os pequeninos”, escrita pelo educador João Köpke (1852-1926), ganhou neste ano a sua primeira edição.
Em um esforço que reuniu a pedagoga Maria Lygia Köpke Santos, bisneta do autor, a pesquisadora e professora Norma Ferreira, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e a Fapesp, a obra ganhou uma edição on-line fac-similar, que pode ser lida no link goo.gl/gQv6FL.
A obra disponibilizada virtualmente é a reprodução visual das 54 páginas de um caderno, escrito provavelmente entre 1886 e 1897 e que permanecia sob os cuidados da família do autor. Foi seu filho, Winckelmann Köpke (1886-1951), quem inicialmente guardou o original, composto de 24 poemas infantis manuscritos, todos organizados em sequência e acompanhados de diferentes ilustrações, sempre estampadas em páginas à esquerda — os poemas ficam à direita, e cada um apresenta uma diferente disposição de traçados, das estrofes e das letras.
Köpke escreveu a obra assim que se mudou de São Paulo para o Rio, em 1886, época em que criou o Instituto Henrique Köpke, uma escola particular e, também, uma plataforma editorial pela qual ele lançava seus próprios livros de alfabetização e de leituras para crianças.
De acordo com a pesquisadora, a obra acabou não sendo publicada por apresentar uma perspectiva pedagógica que destoava “das propostas pedagógicas e da visão sobre criança predominantes no final do século XIX”, diz Norma, que analisou a obra em sua tese “Versos para os pequeninos, de João Köpke: estudo sobre um manuscrito inédito”.
Para ela, “Versos...” guarda atributos, como a irreverência e a linguagem popular, que o tornam peculiar, e um trabalho que se distingue da própria produção de Köpke à época, elaborada para atender à demanda do mercado editorial e do cenário intelectual e educacional do final do século XIX.
— A importância de se publicar o material se deve à singularidade do que ele apresenta. Diferentemente dos autores da época, Köpke não cria histórias para ensinar às crianças bons comportamentos, a serem educadas, limpinhas, religiosas, piedosas e humildes — afirma Norma. — São poemas bastante inventivos, em que ele brinca com a língua, com aspectos lúdicos, em vez de criar lições de moral.
Em poemas como “A lição”, por exemplo, o autor zomba dos métodos de alfabetização legitimados com os versos: “Venha a lição:/ Repitam todos./ Amollação!”.
POR LUIZ FELIPE REIS
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